Estabelecendo uma ponte sobre o Atlântico

Sttefanne-Camp

Sttefanne Camp Saint Vincent é uma crossdresser brasileira que «conheci» (virtualmente) por puro acaso, pois ambas participamos no mesmo fórum, o Espartilho, que reune crossdressers portuguesas e brasileiras. Ao longo dos anos, acabei por conhecer um pouco melhor o trabalho da Sttefanne, como dinamizadora da comunidade local de crossdressers em Campinas (São Paulo), e fui observando — à distância, claro! — o que ela tem feito para promover as actividades dos grupos em que participa, de como tem encorajado a participação, e o tipo de coisas que têm andado a fazer.

Talvez não seja muito surpreendente que vi imensas semelhanças com o tipo de coisas que fazemos também do lado de cá do Atlântico. Claro que há diferenças; tem de havê-las, nem que seja pela vastíssima dimensão da população brasileira e da extensão incomensurável do seu território 🙂 E a verdade é que partilhamos de facto a mesma língua, mas há diferenças culturais — mais do que ambos os países «irmãos» pensam que existem!

Felizmente há igualmente um respeito e uma admiração mútuos. E, apesar das diferenças, é importante olharmos para as semelhanças. A sociedade brasileira, como a portuguesa, está marcada pelos estigmas e preconceitos impostos por muitos séculos de catolicismo. Há falta de informação em ambos os lados do Atlântico sobre o que é o crossdressing (e mais importante, talvez, sobre o que não é). Em ambos os lados, são organizações de voluntári@s com boa capacidade de coordenação de pessoas que acabam por montar estas estruturas de apoio — geralmente sózinh@s, com muito esforço pessoal, sem apoios «institucionais» (ao contrário do que acontece nos países anglo-saxónicos e alguns países do norte da Europa, onde o Estado, as universidades, ou mesmo os municípios apoiam este tipo de iniciativas). Aqui somos muito parecidos: tanto brasileiros como portugueses estão habituados a terem de se «virar sozinhos» (usando uma expressão brasileira!), caso contrário, não vai haver ninguém que «organize» as coisas em nosso nome. Ou nos organizamos nós, ou não há organização. E quando @s voluntári@s mais activ@s desaparecem, as organizações deixam de existir. Ambos os países são muito semelhantes nesta mentalidade!

Coloquei, pois, à Sttef um desafio imenso: ter a enorme paciência de responder a uma entrevista vastíssima, de 16 longas perguntas, para nos dar a conhecer um pouco melhor o panorama crossdresser do Brasil e a sua experiência pessoal enquanto membro da comunidade. Obrigada, Sttef 🙂 Bem sei que não foi fácil responder a tanta pergunta (é sempre mais fácil fazer as perguntas que escrever respostas!!), mas fico-te eternamente grata pela tua disponibilidade e paciência. Agora espero que possamos aprender alguma coisa com essa tua experiência!

Um dia, sabe-se lá, talvez possamos vir a organizar Eventos Transatlânticos entre Brasil e Portugal 🙂 Afinal de contas, a barreira da língua não existe entre nós, e uma crossdresser é sempre uma crossdresser, seja onde for…


1) Antes de tudo, obrigada por aceitares fazer esta entrevista! Já nos «conhecemos» (virtualmente) há alguns anos, mas é sempre bom percebermos um pouquinho mais sobre o que tu e as tuas amigas estão a fazer no Brasil. Antes de mais, o vosso grupo tem nome? Quando foi constituído? Em que cidade (ou cidades) é que têm uma presença? Qual é o contacto preferencial para quem queira saber mais sobre vocês? Como estão organizadas, existe uma direcção, um conselho de veteranas…? E se puderes dizer mais ou menos quantas pessoas já fazem parte do grupo, e quantas aparecem regularmente nas vossas actividades, seria bom!

Antes de mais nada, obrigada Sandra, é sempre uma honra ter a oportunidade de conhecer pessoas de outros locais.

Bom, historicamente, aqui no Brasil, já existiram alguns grupos mais organizados (os quais eu acompanhei), principalmente nas cidade de São Paulo (Brazilian Crossdressing Club) e Curitiba (Curitibanas). O primeiro é basicamente um site e um grupo de umas 5-6 pessoas que alugam um apartamento na região central de SP, ao passo que o Grupo Curitibanas (que inclusive era um grupo de apoio) não está mais atuante. O de São Paulo existe há mais de 15 anos e o de Curitiba, quando eu o conheci, já tinha uns seis anos (acabou com aproximadamente 07 anos). Esses grupos tinham uma «estrutura organizacional», com uma parte administrativa (diretorias de eventos e financeiros) e o site (para informações rápidas). Entretanto, por seguirem uma lógica de «clube fechado», não prosperaram, e devido à ausência de novas lideranças, retrocederam em referência e número de pessoas… o de Curitiba, foi o que mais deixou influências positivas, visto ter uma nova visão de não ser tão restrito (grupo de apoio).

Em São Paulo, também, havia o Studio Dudda Nandez, que era um local onde podia se contratar os serviços para crossdressing. No caso, a pessoa ia ao local, alugava roupas, perucas (cabeleiras), acessórios e serviços (maquiagem, depilação), para se transformar (produzir) e, se necessário, tirar algumas fotos. Com o tempo, o local se tornou um «ponto de encontro» para as pessoas frequentadoras, que faziam um «Crossday», normalmente num sábado a tarde, dessa forma era possível uma pessoa se transformar, participar do encontro, conhecer outras crossdressers e ainda sair a noite :D. Entretanto, devido o lugar funcionar em um local alugado, e a dona do estabelecimento voltar a estudar (enfermagem), precisou fechar o local 🙁 , mas algumas pessoas ainda fazem encontros em locais pré-determinados.

Atualmente, após passar por um momento «limbo», é verificada formações locais de grupos:

  • São Paulo-SP: referenciado pela Festa Rainha Cross, há quase dois anos está sendo o único evento crossdresser funcionando de forma regular no Brasil;
  • Campinas-SP: a partir de novembro/2014, a Up! Music Bar abriu um espaço para as crossdressers, que envolve um camarim para trocas de roupas, maquiagem e banho, se tornando assim, além de um «Ponto de Encontro», o primeiro Clube de Crossdressing no Interior do Estado de SP. Não há eventos exclusivos para as crossdressers; entretanto, por ser um ambiente com predominância feminina (lésbicas), torna-se um local acolhedor para os grupos transgêneros. O ponto alto são as festas temáticas, que agregam a tod@s 😀
  • Rio de Janeiro-RJ: foi um dos principais pontos de crossdressing no Brasil, entretanto se desfinhou… as poucas pessoas adeptas do crossdressing frequentam os Eventos BDSM e alguns Eventos voltados para Drag Queens. Esse ano estão se reorganizando.
  • Outras localidades: apenas tentativas de organização. Vários fatores, tais como tradição, distâncias, influências locais (São Paulo é a principal referência atualmente, dessa forma, quanto mais distante, menos influência).

As participações em massa ainda são raras… as festas em SP, já chegaram a ter 60-70 pessoas, há 3-4 anos atrás, hoje é uma média de 15-20. Os encontros localizados fora de SP-SP, quando se organizam, variam (4-5 em Campinas), 2-3 (Rio de Janeiro) e mesmo assim, de forma muito variável. Podemos dizer que depois do ano de 2013-14 «voltamos à estaca zero», refazendo todo um trabalho de aproximação e esclarecimentos…

2) Quem se pode juntar ao grupo? Sei que no Brasil há uma grande separação entre crossdressers, travestis, e transexuais. Aceitam todos? E amig@s de crossdressers (que não são, el@s mesmos, crossdressers, mas respeitam-nos e não têm qualquer problema connosco)?

Esse foi outro entrave que encontramos nesse «reinício»… os grupos mais tradicionais de crossdressers se apegaram a rivalidades e começaram a fazer «divisões e subdivisões»… com isso, ao invés de se trabalhar ao que nos une, enfatizaram aquilo que desagregava. A visão de «clube fechado» extrapolava a questão de ser crossdresser, passando a haver barreiras adicionais, tais como idade, orientação sexual e formas de pensamento (ou seja haver o pensamento convicto de que o crossdressing é algo marginal).

Os novos grupos que surgiram, os quais vou deixar mais em evidência, já iniciaram com a mentalidade de «grupos transgêneros» ou seja, começar a ter a visão de um grande grupo com características comuns e focar nesse objetivo comum. Não vou negar que uma ou outra divergência (mesmo que velada) ainda ocorrem, mas com a nova geração, vários desses preconceitos do passado estão a se reduzir.

Outra observação se deve aos «de fora», no caso, pessoas que não são crossdressers ou transexuais… por conta dos atuais Eventos estarem em locais públicos, há uma tendência de que os frequentadores venham a nos conhecer, e reforço que boa parte da «nova geração» (pessoas com menos de 30 anos) ficam impressionadas conosco.

3) Vejo pelas tuas mensagens no Facebook que vocês fazem várias actividades: encontros, jantares, idas a bares, etc. Fala-nos um pouco do tipo de actividades que têm feito nos últimos meses. Como é que começaram?

Inicialmente, os eventos são programados de diversas formas… mas os que têm maior repercussão são as Festas em SP, esses locais são apresentados em uma entrevista que participei, eis os links:

Dessa forma, quem vai nesse eventos, faz amizade «real» com outras pessoas, que antes se conheciam apenas pela internet (Facebook, grupos, etc…)… a partir daí, depois de saber que a «pessoa existe» (não é um fake da internet), são marcadas saídas a restaurantes, bares ou danceterias que não fazem os Eventos Exclusivos Cross…

Entretanto, grupos que são um pouco mais fechados, as formas de comunicação são mais restritas, locais são divulgados no «no último minuto», e ainda pode haver uma seletividade para pessoas de dentro do próprio grupo em participar (tipo uma «seleção interna»).

4) Os locais onde fazem estas actividades são LGBT-friendly? Caso contrário, houve um contacto prévio com os donos dos estabelecimentos para vos deixarem lá ir? Como é que encontram estes locais? Eles também fazem divulgação das vossas actividades, ou a divulgação é só feita pelo próprio grupo?

No momento, os eventos são efetuados em locais LGBT-friendly justamente pelo conhecimento e tolerância às diversidades. Entretanto, em nichos específicos, tais como lojas de roupas, ou serviços que venham a ser utilizado pelas crossdressers, quando possível, tento fazer essa abertura com proprietários e/ou responsáveis.

Agora, pelo fato do local ser LGBT-friendly, não significa que conhecem o público crossdresser/transgênero. Com isso, há necessidades de tratamento como o local sendo «convencional», iniciando desde a explicação básica do «o que somos, gostamos, esperamos» até a questão das nossas necessidades e os «prós/contras» da escolha do local. De posse disso, é verificada a possibilidade de divulgar o nosso espaço, justamente para demonstrar às demais crossdressers que o local existe. 

5) Muitas meninas não podem sair de casa vestidas de mulher (pelas mais diversas razões). Estes espaços também têm disponibilidade para se vestirem? As «veteranas» ajudam os novos membros a arranjarem-se, a tratarem da maquiagem, etc.? Quem não tenha sequer roupa pode também participar?

Bom. Desde o início, uma das necessidades que sempre observei foi essa «área de suporte». Quando consultada pelos demais grupos, sempre recomendei essa área, pois é observado não somente a situação da pessoa sair vestida de casa, mas tem questões de deslocamentos e transporte.

6) Muitas de nós são heterosexuais e casadas. Nestes espaços as esposas/namoradas também podem vir e participar das actividades? E amigos e convidados?

Sim. Do momento em que estamos passando por «divulgação», é muito melhor que pessoas próximas (familiares) e amizades (simpatizantes) estejam próximos… caso contrário, pode vir parecer uma «confraria» ou «seita secreta».

7) Sei que um problema — se não o principal problema! — tem a ver com a segurança, a privacidade, a discrição. Como fazem para seleccionar os novos membros? Têm de preencher um inquérito? Há entrevistas pessoais antes de um membro ser admitido?

Conforme citei anteriormente, os grupos que fizeram um tipo de seleção (como se fossem clubes fechados) não deram certo… o que está ocorrendo no momento é algo do tipo «a pessoa que converso no Facebook existe, é real… dessa forma posso combinar estar no próximo evento…».

Uma «sistemática» que está ocorrendo é a seguinte: uma ou duas pessoas foram a um evento e tiramos fotos… por exemplo, a Sttefanne, a «menin@ A» e a «menin@ B»… em outro dia, a Sttefanne não está presente, mas estão a «menin@ A» e a «menin@ B», e vai uma «menin@ C» que viu a foto do Evento passado (por exemplo num site ou no Facebook)… por ser um local público, sabe que tanto o local, quanto as pessoas são reais e quem está ali, está para se divertir e conhecer pessoas. Dessa forma, quando eu contactar as «menin@ A» e a «menin@ B», me falam da «menin@ C»… com isso, a «rede social» funciona dentro e fora da internet.

8) Todas as actividades estão abertas a todos os membros? Ou existe uma «hierarquia», com actividades para os membros mais recentes, e, à medida que vão ganhando confiança dentro do grupo, passam a estar disponíveis outras actividades?

No formato atual, não há hierarquia… o que percebo são referências — gosto do estilo da a «menin@ A» por causa do tipo de maquiagem ou da «menin@ B» por causa do estilo de roupas — e assim vai. Outra referência que observo, é em relação ao carisma, quanto mais simpática e amistosa, mais ocorre a divulgação do crossdressing por ela.

 9) Se tiverem contactos de crossdressers de outras cidades (ou mesmo países!) que vos queiram visitar, como lidam com a situação? Pode ser complicado se não conhecerem a pessoa de lado nenhum, certo? Por outro lado, acredito que hajam crossdressers em férias e/ou em viagens de negócio que pretendem, na vossa cidade, saír com outras crossdressers em segurança… como lidam com isto?

Particularmente, a forma mais prática e segura é marcar em um local público (normalmente shopping ou restaurante), pode ser «de homens», uma vez que estando vestidas é mais fácil em Eventos. A pessoa não precisa passar telefone ou WhatsApp, uma vez que depende do grau de confiança existente, entretanto, o Facebook Mobile é uma ferramenta que auxilia nesse momento.

10) O vosso grupo tem um manifesto, ou um código de ética/conduta, que todos os membros tenham de seguir? Podes falar um pouco sobre isto? Quando as pessoas não respeitam as regras, o que lhes acontece? A decisão de expulsão é tomada por quem?

Os grupos fechados citados no início, possuíam um conjunto de Regras em seus site. Entretanto, regras gerais sofrem muitas interpretações pessoais divergentes que podem se tornarem injustas. No caso esses grupos possuíam «comissões de ética» que «julgavam» os casos de irregularidades regimentais.

 Atualmente, nos grupos abertos, há tempo de se conhecer as pessoas, e como não há hierarquia ou regras engessadas, o bom senso e o clima de amizade é o principal balizador atualmente. Divergências pessoais (ideias), podem ocorrer, pois é como se fossem pessoas que sentam em um sofá pra tomar café e conversar sobre determinado assunto, só que o assunto é o Crossdressing.

11) E no meio online? Por exemplo, há regras para as fotografias que os membros publicam? Ou o tipo de conversa que têm em público? Estou a pensar justamente nos casos mais complicados, que é alguém tentar entrar para o grupo apenas com o objectivo de encontrar parceir@s sexuais. Como fazem nessa situação?

Infelizmente, na internet há vários grupos principalmente no Facebook, onde há de tudo, com e sem regras… entretanto, assim como em Portugal há o Fórum com a temática crossdressing, o Espartilho, no Brasil temos o Crossdressing Place. No caso de fórum, por ser algo «mais técnico», a visão de conotação sexual tende a se restringir no grupos do Facebook, primeiro pela facilidade de postar fotos, segundo pelas dificuldades de moderação e terceiro, pelos assuntos envolvidos, onde nos fórum o importante é a troca de conhecimento.

Eu mesma auxilio no Fórum aqui no Brasil e posso dizer que foram poucos os casos onde a Moderação precisou intervir.

12) Realizam encontros e actividades com outros grupos semelhantes no Brasil? Pergunto isto, claro, porque talvez um dia se possa fazer um encontro mesmo com um grupo em Portugal (apesar da distância dificultar tudo!). Como veriam esse tipo de colaboração?

Por estarmos «começando tudo de novo», já trabalhamos com essa possibilidade. Em praticamente todos os locais do nosso território, os problemas enfrentados por nós são os mesmos (ausência de locais, medo das crossdressers em conhecer outras da mesma localidade/região, reduzida informação ou fontes de informações confiáveis sobre o crossdressing e distância de onde ocorrem os Eventos de maior influência, tais como São Paulo).

Dessa forma, com o auxilio da internet (Facebook e fórum), tentamos manter contato com pessoas das mais diversas localidade e sempre trabalhando com a possibilidade de conhecer pessoalmente. Entretanto, ainda passamos por provas de «tentativas e erros», uma vez que nem sempre sai conforme combinado, pois uma pessoa vai depender da agenda de outra.

Vou dar um exemplo: a maior parte dos vôos no Brasil passam por São Paulo, assim como boa parte das empresas estão lá… se uma pessoa vem a trabalho, podem ocorrer limitações para ela viajar a Campinas, onde estou. Caso essa passagem seja no meio da semana, não será possível contato em Eventos, que ocorrem no sábado…. e assim por diante.

Algo que costumo utilizar, mas só quando tenho certeza é, através do Fórum, ou de minha página no Facebook, de postar que «estarei tal período em tal lugar», e deu certo em vários casos.

13) Como pensam que o vosso grupo pode ajudar a explicar o fenómeno crossdresser em geral? Têm contactos com a comunicação social, com a polícia, com entidades como as câmaras municipais — ou é ainda muito cedo para isso? Fazem alguma divulgação sobre o crossdressing nos espaços onde realizam as actividades?

Bom, como «retornamos ao início», tivemos de «nos mostrar para o mundo», principalmente para pessoas dentro do círculo LGBT e jovem.

Particularmente, já fui procurada por estudantes secundaristas e de cursos técnicos (área de humanas), nos questionando sobre nosso modo de vida e nossa visão como «tribo urbana»… e isso me chamou muito a atenção, visto que fomos observadas por um ponto de vista que eu não havia pensado antes (tribo urbana, que têm uma certa lógica).

Diante desses fatos, observamos que, primeiro, temos de dizer o que somos/o que pretendemos/nossos interesses… nos conhecer (sim ainda somos muito isoladas/solitárias)… para depois sim, dar passos maiores.

Com isso, dentro do possível, tentamos divulgar eventos e/ou locais onde temos como um ponto de encontro, justamente para chamar a atenção, primeiramente, de outras crossdressers, depois de pessoas que nos conhecem e por último, as pessoas que tem curiosidade em saber o que somos.

14) Ajudam crossdressers que ainda estão numa fase de imensas dúvidas e hesitações? E lidam com problemas de casais em que a esposa pode não estar ainda bem informada sobre o crossdressing? Têm algum site com mais informação?

Depende… no Fórum Crossdressing Place, damos todo o apoio, informações, suporte a toda pessoa que busque conhecer sobre o crossdressing. Se algum membro vai a algum Evento, nem todos ainda possuem uma experiência necessária para dar esse apoio «ao vivo».

Em locais de Eventos, nem a pessoa deve possuir um mínimo de conhecimento, e nem sempre as esposas/companheiras compreendem essa necessidade de conhecer outras crossdressers.

Do outro lado… ainda não temos uma grande procura por parte das esposas, apesar de que, depois que o crossdressing ganhou um pouco de divulgação na TV, começaram a surgir consultas/questionamentos…

E as crossdressers, quando descobrem que há Fórum, locais e pessoas similares a elas, a sensação de isolamento ou solidão começa a reduzir.

15) Em geral, como vê a população brasileira as crossdressers? Há muita intolerância, ou depende de cidade para cidade, de bairro para bairro? Para as crossdressers que queiram visitar o Brasil e sair à noite, que recomendações farias?

De uma forma bem geral, ainda há muita falta de conhecimento da população brasileira em relação ao Crossdressing. Grande parta ainda vincula a questão da vestimenta com a pessoa, e no caso do crossdressing, a correlação com a Orientação Sexual ainda é grande, e talvez esse fator é o que mais causa incomodo às esposas/companheiras.

 Entretanto, nas cidades maiores, a tolerância torna-se maior justamente pelo maior grau cultural e menor grau da influência de setores mais tradicionais da sociedade. Mesmo assim, aqui no Brasil, temos como referência, a Cidade de São Paulo, como o local de maior tolerância e respeito às diversidades. Do momento em que vai se afastando, essa «escala» vai se reduzindo.

Especificamente para o crossdressing, São Paulo, além de ter locais com Eventos Crossdressers há mais tempo em atividade, a concentração de crossdressers também é grande. Então são fatores que colocam a cidade no maior grau da escala citada.

Cidades como Campinas (95 km de São Paulo) e Rio de Janeiro, por ações isoladas de algumas crossdressers, estão surgindo locais que acolhem as praticantes do Crossdressing.

16) E para terminar (que isto já vai muito longo!), queria só saber se podes falar um pouco mais sobre ti, para quem ainda não te conhece. Como começaste a fazer crossdressing?

Rsss…. parece incrível, mas comecei e exercer o crossdressing há pouco tempo, mais precisamente comecei em Junho de 2.011. Isso após descobrir que existia um «crossdressing service» na cidade de SP.

Antes disso, eu achava que sentia apenas uma admiração por sapatos de salto alto, mas que, com o tempo, a vontade de me «vestir completa» estava crescendo dentro de mim. Foi justamente para me conhecer mais, que procurei esse serviço, pois queria saber como eu ficava «em femme». Um detalhe nisso, é que minha esposa sempre soube que eu gostava de peças femininas (principalmente meias e sapato de salto alto), daí comentei com ela essa possibilidade de «eu me conhecer».

A partir dessa data, após o «nascimento» da Sttefanne, percebemos (eu e minha esposa) o quanto eu fiquei feliz, como se fosse uma terapia que me fizesse bem… a partir daí, comecei a observar outras pessoas que se descobriam no crossdressing e expressavam o mesmo sorriso. Ou seja, é uma das diversas formas de liberdade, ou de expressão… assim como para várias pessoas, a leitura, ou a prática de algum esporte é benéfico pra elas.

Profissionalmente, eu já trabalhava com pessoas, dessa forma, acreditei que poderia utilizar esse conhecimento para divulgar o crossdressing, e acrescentava muito o fato de eu ser casada, onde percebi gerar um certo grau de confiança nas pessoas que conversavam comigo.

Escrevi em um blog, sobre minha visão de ser crossdresser dentro de casa (Crossdressing em Família), e o equilíbrio crossdressing/casa/família/trabalho, artigos que começaram a dar uma visão mais otimista dentro do Crossdressing…. Depois disso, tentei conhecer os grupos «mais fechados», uma vez que eram as referências na época.

A partir daí, conheci mais pessoas que viam a necessidade de divulgar de forma mais ampla o crossdressing, onde me convidaram para auxiliar em um Fórum sobre a temática crossdressing (o Crossdressing Place), e que esse fórum viesse a ser uma ferramenta a mais para qualquer pessoa tirar dúvidas gerais… e por sorte deu certo e acabei conhecendo outras referências em vários países (inclusive «O Espartilho»).

Entretanto, apesar desse «trabalho desenvolvido», sou uma «pessoa comum», com suas virtudes e limitações, alegrias e tristezas pessoais, assim como qualquer pessoa… tanto que tento demonstrar isso em minha página do Facebook (isso quando tenho tempo, rs)…

Enfim… Espero ter conseguido ter passado um pouco do que ocorre no Brasil, ter contribuído para demonstrar às nossas irmãs do outro lado do Atlântico, o que está acontecendo por aqui…

Beijos… Sttefanne Camp, Campinas/SP – Brasil.

Brasil-e-Portugal-Crossdresser

 


Nota: As respostas da Sttef foram apenas ligeiramente editadas para se adaptarem melhor ao layout do meu blog. Corrigi uma ou outra pequena «gralha», mas mais nada! A maior diferença foi ter substituído a expressão crosse por crossdresser. Em Portugal também se está cada vez mais a popularizar a expressão crosse (até mais do que «CD»), mas queria manter uma certa consistência com o resto do meu blog, onde tendo a meter todos os termos técnicos por extenso e evitar o «jargão» da própria comunidade. Nós mesmo assim já somos muito complicadas de perceber pelo público em geral 🙂