Sobre mim
Como tantas outras, sou uma crossdresser, geneticamente masculina, e 100% heterosexual, vivendo há mais de uma década com a minha companheira — mulher genética — numa relação incrivelmente feliz que não é provável que mude nos tempos mais próximos.
No entanto, ao contrário de muitas crossdressers, foi só tardiamente que comecei a vestir-me de mulher. Na minha adolescência tinha mesmo medo de exibir qualquer característica «feminina», por viver em pânico de ser anormal, homossexual, ou pior que isso (pelo menos isso era o que pensava). Fiz imenso esforço em aperfeiçoar a minha imagem masculina e até deixei crescer a barba. De certa forma, sentia que «desempenhar um papel masculino» era algo que me era exigido e que tinha de fazer um enorme esforço para desempenhar esse papel. Uma enorme vantagem que tinha na altura era sentir-me profundamente atraído por tudo o que fosse feminino, e ainda hoje, tenho mais amigas mulheres do que homens, talvez porque sinta tanta afinidade com os seus gostos e forma de pensar.
Por volta de 1995, mais ou menos, e graças à Internet, consegui finalmente compreender a diferença entre todos os tipos de disforia de género — globalmente designados por transgenderismo. Assumi, na altura, que era «meramente uma crossdresser», obtendo prazer de uma imagem feminina de mim mesma, e mais nada do que isso. Todo o pânico que sentia por de alguma forma estar pré-destinada a mudar o meu sexo físico ou ser forçada a ter sexo com homens para o resto da minha vida desapareceu; as crossdressers têm uma mentalidade completamente diferente: tudo o que gostam de fazer é vestirem-se como mulheres, e admirar essa mesma imagem, normalmente em privado mas frequentemente também em público, procurando passar despercebidas (isto é, passando por mulheres). Uma vez que compreendi isto tudo, comecei a comprar roupas apropriadas à minha imagem feminina, através da Internet, onde se pode adquirir tudo. Rapidamente também me apercebi de que poucas roupas muito elegantes e glamorosas me ficavam bem e de que nunca iria passar despercebida com estilos mais «vaporosos» — a minha forma geneticamente masculina não se adequa a esse estilo de roupa — pelo que passei a focar-me nos prazeres de um estilo mais casual, usando maquilhagem apropriada que passasse despercebida. Hoje em dia, após muita reflexão, já não tenho a certeza tão absoluta que seja «apenas uma crossdresser».
Pratico crossdressing muito menos do que gostaria. Diariamente enfrento a ansiedade de ter de adiar constantemente o meu desejo de me vestir de mulher. O meu psicólogo hesita em classificar-me de «apenas uma crossdresser» ou de «transgénero», pois partilho características de ambos.
Em inglês existe muita documentação sobre o assunto, de grupos de apoio especializados em questões de identidade de género: http://www.tri-ess.org/cd01.html ou mesmo a informação oficial do serviço nacional de saúde britânico.
Em Portugal não há organizações que apoiem directamente as crossdressers a lidarem com as suas questões existenciais, mas existem voluntárias que mantém alguns forums de apoio e troca de experiências, como o Espartilho; para as questões de transgenderismo e disforia de identidade de género, existe a JANO.
Sobre o fetiche da arte de fumar
Dois terços da população considera o acto de fumar algo de profundamente desagradável, prejudicial à saúde e socialmente inaceitável. Se for do tipo de pessoa que concorda com estas afirmações, nem vale a pena ver as minhas fotos e vídeos. O restante terço da população é fumadora e delicia-se com esse prazer, mas, para estes, é apenas outro hábito — tal como tomar café, comer chocolate, ou beber umas cervejas. Uma pequeníssima fracção de entre os fumadores tem uma opinião ligeiramente diferente sobre o acto de fumar: é uma forma de arte que nos excita. As mulheres tradicionalmente desenvolveram a sua própria forma de fumar que é particularmente atraente e sensual, pois reflecte uma imagem de elegância, glamour e sofisticação. Se se adicionar a tudo isto a relação óbvia com uma fixação oral, o acto de fumar deixa de ser apenas um hábito ou vício — passa a ser um fetiche.
Obviamente que não encorajo ninguém a começar a fumar. Não é apenas por ser prejudicial à saúde (há tantas coisas que o são!), mas principalmente porque os fumadores são activamente ostracizados pela população anti-fumadora, e, ao contrário de muitos outros hábitos, fumar é extremamente viciante. Rapidamente nos apercebemos que o número de espaços onde se pode fumar um cigarrinho confortavelmente se diminui cada vez mais, e cada vez temos mais desejo de o fazer. Mas se alguém que estiver a ler isto ainda não estiver convencido(a) dos malefícios do tabaco — não apenas para a saúde, mas como indivíduo exercendo a liberdade de fazer o que achamos melhor para nós — sugiro que visitem o site http://www.smokingfeelsgood.com/ onde encontrarão muita informação sobre como os fumadores lidam com o ostracismo e a saúde, apenas porque sentimos imenso prazer em fumar.
Sobre este site
O crossdressing é uma forma de narcisimo: quer dizer que gostamos de ver a nossa própria imagem, enquanto mulheres. Por isso, as crossdressers nunca estão afastadas do seu espelho, ou, neste mundo de alta tecnologia, de uma câmara. Graças à Internet, onde cada vez mais estamos obcecados em espalhar pelo mundo aquilo que estamos a fazer ou de que gostamos, é natural que as crossdressers coloquem fotos e vídeos seus um pouco por todo o lado. Julgo que comecei por usar um site especialmente para pessoas transgénero, o URNotAlone, mas depressa descobri que não chegava, e passei a colocar imagens, artigos e vídeos em todos os sites sociais que encontrei. Alguns (como o hi5 ou o Badoo) tive de abandonar porque estava farta de aturar pessoas intolerantes — e sim, há um limite mesmo para a minha paciência! Os outros sites começaram a tornar-se muito difíceis de actualizar, fazendo-me perder imenso tempo: levava horas até que todas as fotos e vídeos da minha última sessão de crossdressing fossem actualizados em todo o lado — mas valeria mesmo a pena? Na maior parte dos casos, a audiência é muito limitada. No MySpace, por exemplo, só tenho meia dúzia de amigas. No Multiply, sou seguida por muito mais gente, mas também não são assim tantas. Há mesmo imensa gente no Netlog ou no Tagged, mas nenhum deles é tão popular como o Facebook — que, tal como o Google+, andam a tentar erradicar todos os utlizadores que usam um pseudónimo; além disso, e por alguma razão que não compreendo, as minhas amigas que falam inglês como língua materna não me seguem no Netlog, que, por sua vez, só é usado pela comunidade portuguesa. O Flickr é bom, mas a não ser que se gaste dinheiro para fazer upgrade para a versão profissional, só podemos publicar 200 fotos de cada vez — e eu tenho mais de 1200. Para além disto tudo, ainda actualizo regularmente o meu canal no YouTube, no Blip.TV, no Photobucket, no MSN Live, e no Orkut… e alguns, como o Twitter, são actualizados automaticamente.
Já nem menciono sequer o facto de haverem pessoas que me mandam todos os dias mensagens em todos esses sites sociais, sendo-me completamente impossível manter-me em contacto com todos. E então as minhas amigas protestam porque não lhes presto a devida atenção…
Tive, pois, de tomar uma decisão. A partir de 2012, vou cancelar as minhas actualizações em todos os sites sociais, com apenas algumas excepções: Flickr (e outrora Picasa) para imagens, YouTube para vídeos. Todos os artigos vão estar centralizados neste site, tanto os em português como os em inglês (não são traduções uns dos outros; a audiência é diferente), e todas as actualizações de imagens e vídeos vão também aparecer neste site. Vou apagar todos os álbuns, imagens, blogues, artigos, etc. em todos os restantes sites sociais onde estou inscrita, deixando apenas um perfil minimalista a apontar para este site. Não, não vou cobrar para visualizar o conteúdo neste site (na realidade, todo o meu conteúdo está disponível com uma licença Creative Commons 3.0 Attribution), é mesmo apenas porque estou cansada de actualizar tantos sites ao mesmo tempo!
Isto vai ter um impacto principalmente para todos os que me mandam mensagens e comentários simpáticos, especialmente nos artigos, pois terão de os fazer aqui neste site. Não é necessário qualquer registo, as mensagens podem ser completamente anónimas, ou então serem assinadas com um pseudónimo e um endereço de email (que não será publicado), ou então basta usar o login habitual que tiverem no Facebook/Twitter/WordPress/OpenID (este último pode também ser usado pelos utilizadores do Yahoo!) para colocar um comentário. Se não estiver inscrito em nenhum destes serviços, não faz mal; mas sugiro que ao menos se registe em Gravatar, o que irá permitir associar aos seus comentários uma pequena imagem junto com o seu pseudónimo (e que funcionará naturalmente em muitos outros sites, não apenas neste). Os comentários vão ser moderados; não me importo nada com crítica construtiva e até mesmo com comentários furiosos, desde que sejam educados. Linguagem demasiado ofensiva que não tenha nada de válido a partilhar não serão aceites: espero que quem seja adulto, se comporte como tal