O século XXI e as relações humanas

Dedico estes pensamentos aos poucos entre vocês que tiveram a paciência de ler o meu perfil ; que sabem que sou uma pessoa plenamente realizada na minha relação de 12 anos de pura felicidade com a minha cara-metade; que compreende as minhas fantasias e os meus fetiches, e que ou os partilha (e por isso se fez “amigo(a)” aqui no Netlog, ou que os acha divertidos sem partilhar dos mesmos gostos, o que pelo menos os aceita — sabendo que não estou aqui no Netlog (ou na outra meia centena de sites por essa Web fora) à “procura” de absolutamente nada, para além de gente simpática com quem conversar e trocar ideias.

Em 2000, a percentagem de divórcios entre os 20 países que mais divórcios têm no mundo rondava os 40% (Portugal tinha 30%). Desde então tenho a certeza que esta percentagem aumentou, e não é por uma questão de “perversidade”, de gostar de ver as coisas a correrem mal, mas porque vou observando a reacção das pessoas à minha volta, na vida real e também no mundo online (pessoas são pessoas!), e acredito que aquilo que era já verdade em 2000 ainda se torna cada vez mais verdade em 2009, a tendência para o que vou descrever já de seguida é a mesma…

Estava a assistir a uma conversa entre a minha sogra e a minha cunhada, duas pessoas com as quais passo umas horas agradáveis pelo todos os fins de semana. A minha sogra é divorciada (e mais feliz assim; até porque continua a dar-se bem com o ex, desde que deixou de ser “obrigada” a viver com ele todos os dias…). A minha cunhada, desde que largou o último namorado há uns 8 anos (penso eu) nunca mais “procurou” nenhum outro. Ambas (mas especialmente a minha cunhada!) comentavam sobre a total ausência de homens decentes que estivessem disponíveis, mas não num tom lamuriento, mais numa perspectiva destacada, não emocional, de uma constatação de um facto. Há mais mulheres que homens (um facto demográfico inegável), e os poucos homens disponíveis “revelam-se” homossexuais. Os restantes, numa palavra, “não prestam”. Não admirava, concluíam, que tantas mulheres encontrassem em vez disso parceiras do género feminino. Talvez nem sequer se “sentissem” lésbicas, no sentido mais corrente da palavra. Nem sequer o fariam por uma questão puramente sexual, mas mais por alguma necessidade intrínseca à espécie humana de quererem um(a) companheiro(a) para partilharem um lar e uma vida. Se não há homens “decentes” disponíveis, pelo menos podiam ambicionar a viverem com uma mulher. Mais uma vez, o objectivo não é prazeres loucos nocturnos e satisfação plena sexual: mas apenas a procura do companheirismo, que rompe a eterna solitude de uma casa vazia que não é um lar…

Assisti ao desenrolar da conversa com algum interesse, sem contribuir, mas também estava a reflectir sobre o que conheço de outras pessoas próximas de mim, ou das pessoas que não conheço mas cujos perfis leio nos vários sites da Internet. O que são esses tais “homens decentes” de que elas falavam, e que eram tão complicados de encontrar? À partida, pensaria, ingenuamente, de que a probabilidade de encontrar um ou outro tipo (disponível!) seria, regra geral, a mesma. Tal como a estupidez humana é uniformemente distribuída, parece-me que as restantes características (incluindo a simpatia!) deveriam seguir a mesma curva de probabilidades. Não faria sentido dizer que “todos os homens ou estão comprometidos, ou são homossexuais, ou não prestam” — pareceria redutor e muito estereotipado!

Mas depois analisei melhor. Olhei para os meus próprios sites, que salvo erro exibem fotos minhas desde 1999 — e uma década dá para fazer uma análise muito prolongada no tempo. Inicialmente, o primeiro site que coloquei no ar tinha o objectivo de partilhar uma fantasia comum, um fetiche, com outras pessoas com os mesmos gostos. E nos primeiros anos assim era: a Internet era ainda relativamente jovem, pouco apelativa fora de um círculo restrito de pessoas, mas era frequente congregar pessoas de todo o mundo com os mesmos gostos no mesmo site. Éramos, pois, pessoas bastante parecidas: tínhamos os mesmos gostos, e, logo, pensávamos da mesma forma, entendíamo-nos bem, e, regra geral, a Internet era o “nosso” local de convívio privilegiado, separados que estávamos geograficamente, sem possibilidade de alguma vez nos virmos a juntar.

Com o tempo, os sites sociais na Internet foram mudando de “estilo”. Mais e mais se tornaram em dating sites — locais onde o único propósito é encontrar um(a) parceiro(a), ocasional ou permanente, e essa é a única razão pelas quais as pessoas se inscrevem neles. Apercebi-me disso só relativamente recentemente, quando uma amiga minha (também divorciada), muito inteligente, muito culta, muito crente e, principalmente, muito decente, se inscreveu no hi5, e o único objectivo dela a fazê-lo foi justamente “procurar um parceiro”, já que “na vida real”, tal como a minha cunhada, isso parecia impossível. Não a critiquei, claro — uma em cada oito pessoas no mundo moderno conhece-se pela Internet e “isto” não é diferente de ir “engatar miúdas” a um bar, com a diferença que se conhece mais gente mais depressa e se pode fazer um processo de selecção rápido de um grande número de pessoas…

Alguns sites (e infelizmente o Netlog parece ser um desses) praticamente só existem por causa disso. Posso-vos dar o meu exemplo: das cerca de 300 pessoas que insistem ainda em “quererem ser meus amigos” no Netlog, 280 querem ir para a cama comigo, e esse foi o único objectivo de me contactarem. É mais de 90%! Não sei se 300 pessoas são uma amostra significativamente válida, mas é de certeza um bom indicador. Noutros sites, que são claramente anunciados como “dating sites”, claro que a percentagem é de 100%. Mas noutros sites em que me inscrevi mais recentemente, que não são anunciados como tal, essa percentagem anda também pelos 90-100%. (No passado foi isto que me fez abandonar o hi5, quando o nível de insultos atingiu um tal ponto que estava farta de aturar os putos que por lá andavam.)

Isto por si só não seria muito mau, seria como imaginar que vamos a uma discoteca em que 90% das pessoas que lá estão só vão para uma coisa: encontrar um(a) parceiro(a) para essa noite. Acredito que haja espaços assim! E não é por isso que os posso criticar, as pessoas fazem o que quiserem, com quem quiserem… Mas vamos agora ver a perspectiva de quem são esses 90%, e é aqui que a questão começa a ser interessante (ou talvez assustadora!).

É raríssimo não responder a quem me envie uma mensagem minimamente bem educada, mesmo que não o faça imediatamente; não tenho tempo para estar sempre no Netlog, e fascino-me com a quantidade de tempo disponível que tanta gente tem para estar “sempre online no engate”. Não é o meu caso, e peço antecipadamente desculpa a todos aqueles que acabam por esperar uns dias até eu responder; não o faço por má educação, mas apenas porque simplesmente não tenho assim tanto tempo disponível como vocês!

Mas quando o faço, é raro trocar mais de 2-3 mensagens com a mesma pessoa. Primeiro de tudo, muito mais de 90% das pessoas (todos homens) nunca lêem o meu perfil, nem lêem o meu blog. Mais de 80% nem sequer sabe que tenho aqui vídeos disponíveis. Ninguém olha para as “tags”. E mesmo as fotos, só vêem meia dúzia delas, provavelmente as primeiras e as últimas.

Baseado nisto, a abordagem dos homens é sempre a mesma (parece que todos andaram na mesma escola). Primeiro fazem um elogio pouco sofisticado, mas não deixa de ser um elogio. Depois perguntam onde vivo (prova de que não leram o meu perfil) e pedem o MSN (assim têm a noção bizarra de que têm um “contacto mais directo” comigo, já que me podem ver na webcam ao vivo e a cores). Quase de certeza nas primeiras mensagens vão sugerir um encontro ou um café. Têm a arrogância de pensar que pelo mero facto de serem homens e me terem feito um elogio eu estarei imediatamente perdida de amores por eles e que terei uma compulsão irresistível em aceitar…

Geralmente dou o meu endereço MSN a quem mo pede, na vã esperança de que algumas das pessoas que me acrescentem sejam realmente pessoas interessantes, que saibam conversar, e que tenhamos de facto algum interesse comum. É uma ingenuidade da minha parte, eu sei. Aqui já nem é 90%, mas sim 99% dos casos em que realmente nada têm para dizer. Para já, irrita-me profundamente que nem se lembrem de mim. Aqui no Netlog é só pedinchar, pedinchar, pedinchar, mas quando estão no MSN já nem sabem quem sou, ou porque pediram o meu contacto. Porquê? Porque como andam a “coleccionar amigas”, e só é homem quem tem pelo menos umas 500, duas para cada noite do ano, é evidente que já não se lembram de nenhuma. No entanto, claro, esperam que eu me lembre deles imediatamente, com uma memória perfeita, e que esteja entusiasmadíssima por os conhecer!

O passo seguinte, provavelmente depois do “olá” e “onde moras” (como se não estivesse no me perfil…), é, obviamente, ligar a webcam. Há uns anos atrás ainda havia algum “Jogo de flirt” neste passo: voltava o tradicional elogio, umas gracinhas sem piada nenhuma, depois, provavelmente com a webcam aberta com mais umas 5 ou 10 ou 20 em simultâneo, escolhiam a que lhes parecia melhor dessa noite, e descartavam o resto. Por vezes, quando só me tinham a mim, então a conversa desenrolava-se de molde a confirmarem que a pessoa que viam na webcam era a mesma das fotos (duh!), e uma vez estabelecido isso, passava-se ao tradicional “baixa a web” (que levei um ano a perceber que estavam a falar da webCAM, mas tudo bem), e, se e aceitasse, mais uma voltinha (para confirmar que não estavam a ver um filme, claro), e depois, pronto, é na base do show de strip erótico… e se eu aceitasse (coisa que não faço), seria o convite para passar a noite em casa deles.

Hoje em dia, nem sequer existem esses passos todos. Eles não têm tempo. É mesmo, “olá, onde moras, já não me lembro de ti, estou com um tesão, queres ver? mostra as mamas/levanta a saia, dá-me o teu número”. E pronto, se não responder que sim a tudo em 5 picossegundos, passam à menina seguinte, pois alguma haverá “disponível”…

Se pensam que estou a exagerar… bem gostaria de dizer que estou. Talvez o mais frustrante é ver que todos são assim. Os mais simpáticos a início ainda são os magrebinos; são um pouco mais tímidos a início, pouco habituados às libertinagens ocidentais, mas logo que lhes façamos um sorriso, derretem-se todos, e falam de casamento (que obviamente não tencionam consumar, mas é o habitual para a cultura deles, presumo eu). Ao contrário dos tugas, que desistem depressa (“há mais meninas na ‘net…”), os magrebinos tendem a agarrar-se que nem lapas quando uma “ocidental” lhes dá atenção. De resto não há grande diferença entre pessoas, especialmente da geração entre os 25-50 anos.

A partir dos 50 anos já se apanham algumas pessoas mais bem educadas, mas não aqui no Netlog. Encontro-os noutros lados, mas são pessoas que pelo menos lêem o meu perfil e não me contactam “por acaso”.

Já resmunguei muitas vezes por causa disto, é verdade; mas se calhar nunca me perguntei verdadeiramente a sério sobre o “porquê”. É evidente que há uma concepção de que quem anda à procura de parceiro/a sexual para “curar o tesão”, está na net. É mais “limpo” e mais seguro, não é preciso ir primeiro à procura nas discotecas e bares, em que se consegue, no mínimo, “meter conversa” com uma meia dúzia por noite. Na ‘net podem meter conversa com dezenas durante uma noite toda, escolher as que estão disponíveis, e depois ir para um bar/café/discoteca/cama com elas. É mais cómodo. Ainda poderíamos achar que seria um bom método para seleccionar qualidade de entre tanta quantidade, mas nem é sequer o caso: o único critério é mesmo disponibilidade. “Querida, estás disponível…?” Se sim, óptimo, continua-se a conversa. Senão, apaga-se do MSN, e vão-se buscar mais contactos. É indiferente quem são, ou como são. O que importa é estarem disponíveis.

Até aqui tudo bem, os últimos anos online têm sido bastante monótonos ao ver que todos são assim, daí agora fazer-lhes a pergunta se estou a falar com um chat bot, pois têm todos o mesmo modus operandi, usando praticamente as mesmas palavras e sequência de conversa (mas eles nem sabem o que é um chat bot, tal como não sabem o que quer dizer “crossdresser”). Se é que se pode chamar mesmo de “conversa”. Não há realmente grande esforço: o objectivo mesmo é que a menina escolhida para a noite se dispa ali e agora “para aproveitar o tesão”. Se levar muito tempo (ou seja, mais de minuto e meio), passa-se à seguinte antes que o tesão se vá e se tenha de esperar pelo próximo. Ao fim de algumas dezenas, presumo eu, hão-de encontrar uma menina que lhes mostre as mamas e pronto, já podem masturbar-se à vontade, ou, nas palavras deles, “aproveitar o tesão antes de ir dormir descansados”. Ao fim de umas centenas, alguma, quiçá mais desesperada por alguma companhia, pode ser que até lhes ceda o telemóvel e que se encontre com eles.

Seria triste se não fosse realmente uma tragicomédia. Mas a minha pergunta era sempre “porquê?”

Foi talvez a conversa entre a minha cunhada e a minha sogra que me despertou para a realidade. Estamos, mais do que nunca, no auge de uma era de hedonismo que atinge proporções inacreditáveis. Não sou, obviamente, uma puritana, nem tenho sequer qualquer pretensão de ser moralista. No entanto, choca-me a noção de que as pessoas em geral — e para mim, 90% das pessoas é claramente “em geral”! — só tenham uma única coisa em mente: a satisfação pessoal dos seus desejos (neste caso, sexuais) a todo o custo. E não só é a satisfação pessoal que está em jogo — todos queremos isso — mas a satisfação pessoal imediata. Este hedonismo é já tão predominante nas mentes das pessoas que por aí andam por este Netlog fora que é confrangedor ver que há como que uma cegueira a tudo o resto. Vejo gente a passar horas e horas online com esse único objectivo em mente: alguém que os satisfaça, e já, sem colocar perguntas complicadas, sem sequer pensar duas vezes, depressa, rapidamente, sem confusões. Nem é a objectificação da pessoa que está do outro lado da webcam; é a auto-objectificação que me assusta! Eles definem-se apenas pela necessidade de quererem gratificação imediata. Nunca sei quais são os seus interesses, de que gostam e de que não gostam, do que fazem, do tempo que passam com amigos ou familiares. Tudo isso é secundário, irrelevante. Tudo o que conta é: quantas é que consigo que me mostrem as mamas (ou o rabinho) esta noite? Será que alguma delas quer ir para a cama comigo e aproveitar o meu tesão? E assumem, imediatamente, excluindo qualquer alternativa que elas querem exactamente o mesmo.

É a isto que estão reduzidas as relações humanas neste século XXI. Eles procuram parceiros sexuais para o imediatismo da sua gratificação pessoal, e mais nada lhes interessa. Não querem saber do que elas gostam, o que elas querem, ou sequer o que pensam. Talvez há 10, 20 anos ainda procurassem ser educados e faziam alguma conversa: não quer dizer que não pensassem da mesma forma (“esta gaja é uma seca, a tanga que lhe tenho de dar para que ela se abra um bocadinho, mas tudo bem, cá vamos e logo se verá”), mas pelo menos fingiam que não era assim. Esse “fingimento” ainda lhes permitia, pelo menos, conhecer quem estava do outro lado. E se a relação durasse um pouco mais antes da inevitável separação, pelo menos tinham uma vaga ideia com quem tinham passado uns anos.

Mas hoje em dia?… Não há qualquer “pretensão”. Há apenas um objectivo, bem claro, nu e cru: eu tenho um tesão, eu quero gratificação imediata, dá-ma já ou passo para a seguinte. E quando deixares de me conseguir gratificar, não faz mal, onde te arranjei posso arranjar mais umas dezenas. Não há pruridos: são já poucos que perguntam se sou casada, se tenho filhos ou família. Não interessa. O que interessa é: estou disponível ou não?

Nos raros casos em que este tipo de conversa acabe numa “relação” que dure mais do que uma noite (o que é provável, mas também há mulheres para tudo…), qual é a consequência? É inevitável que a capacidade de gratificação termina ao fim de um certo tempo. A “paixão” (leia-se: “o aproveitamento do tesão”) não dura para sempre, e é impossível ser-se ingénuo ao ponto de acreditar no contrário. Inevitavelmente acaba — há sempre melhor algures, e na net é tão fácil de descobrir. Por isso, descarta-se a relação logo que se encontra outra coisa (nem uso já a palavra “pessoa”!…) mais interessante. Para alguns, dura uns dias ou semanas; para outros meses; mas é raro durar anos. É natural: ao fim de uns anos, na realidade, estamos a viver com estranhos, estranhos esses que nem sequer consideramos como seres humanos, mas apenas meros objectos que auxiliam na auto-gratificação e mais nada. Tudo o resto são “coisas que aturamos” (ao mesmo nível de pagar impostos e a conta da luz), mas é mais ou menos ao nível de “incómodos” que existem nesta vida de sofrimento para que possamos gozar os momentos de prazer, que duram meros instantes.

Mas na época pré-Internet se calhar “aturávamos” melhor estes “incómodos” porque havia pouca opção. Há um limite de amigos(as) que conseguimos conhecer na nossa atarefada vida do quotidiano laboral e familiar. Como disse, não é passando as noites na ronda dos bares e discotecas, qual Santana Lopes, que vamos conseguir reunir um número suficiente de “disponíveis” para satisfazerem os nossos impulsos hedonistas. Assim, havia um certo equilíbrio: “aturávamos” uma relação porque sair dela e começar com outra levava algum tempo.

A Internet mudou tudo isso. Agora eles podem estar a falar com vinte “potenciais” ao mesmo tempo no espaço entre um tesão e outro. E no dia seguinte, há mais vinte diferentes, e depois, outras vinte, e mais cinquenta, e cem, e mil. Talvez não saibam, mas a espécie humana, devido à evolução enquanto espécie gregária, tem um limite de pessoas com as quais consegue manter uma relação de afecto e proximidade — cerca de 150 pessoas. Tudo para além desse número é registado pelo nosso cérebro como meros “estereótipos”. Este número não é fixo, ou seja, podemos “empurrar” pessoas para fora desta esfera de “amigos” e incorporar novas pessoas. No entanto, tratamos todas as pessoas fora deste grupo como meros objectos, sem personalidade.

No dia a dia, não conseguimos “encher” esta esfera pessoal de relacionamentos muito depressa: 150, que é o tamanho de uma “tribo” ou “clã”, ou nas épocas recentes, “aldeia” ou “bairro”, é algo que leva algum tempo a criar. Podemos com facilidade pensar nos nossos tempos de liceu ou universidade, em que poderíamos ter grupos de 20-30 amigos regulares e próximos de nós, mais outros tantos familiares, mais se calhar uns 20 da turma de artes marciais ou do ginásio, e outros tantos colegas de trabalho, e assim por diante.

Mas quando chegamos à ‘net, tudo muda! Apenas olhando para fotos no Netlog, clicamos numa centena de pessoas por dia sem pestanejar, e no dia seguinte mais outra centena, e mais outra, e assim por diante. Amigos meus regozijam-se de terem “5000 pessoas a segui-las no Twitter/Facebook”. 5000… pessoas? Ou meramente “coisas”? É que é impossível lembrarmo-nos dos nomes de 5000 pessoas, quanto mais de verdadeiramente as conhecer, de saber quem são, e de estabelecer relações e elos fortes com elas…

Não sou contra a Internet, antes pelo contrário. A Internet fez-me encontrar imensas pessoas com as quais tenho muito em comum, e que seria de todo impossível encontrar de outra forma. Fez-me partilhar gostos e conversas interessantes durante horas com imensas pessoas. Fez-me estabelecer laços de amizade com dezenas e dezenas de bons amigos e amigas, com os quais me mantenho em contacto, muitas vezes diariamente.

Só não me fez relacionar-me com 5 ou 10 mil “coisas” que descarto na primeira oportunidade que tenho. Mas tenho consciência de que não sou realmente uma habitante deste Século do Hedonismo, que me assusta.

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